12 agosto 2009

O apóstolo João


“Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade.”

O apóstolo João é meu discípulo preferido. Não por razões espirituais ou motivos nobres, mas pelo simples fato de que me com ele. Só que me pareço com o João antes de ser transformado pelo Espírito de Deus. E quando leio sobre quem ele chegou a ser, penso que ainda há esperança para meu temperamento intenso, justiceiro, tão pouco misericordioso em muitas ocasiões.

Sobre João e sobre o que a mensagem faz com o mensageiro, é nosso assunto de hoje.

Confesso que tenho certa queda pelas pessoas educadas, amáveis e de fino trato. A educação não é uma questão de esnobismo, ou de regras pacatas. A educação é, simplesmente, aconsideração pelo próximo.

E quando lemos a terceira carta do apóstolo João, o antepenúltimo livro da Bíblia, nos encontramos com um homem de uma educação e uma doçura indescritíveis.

3 João 1- 4.

Os primeiros versículos mencionam frases como “meus amados,” “me regozijo,” “não tenho maior alegria.”

Esta carta, escrita por um velho e desgastado João está cheia de amor. NÃO há amargura, não há vazio, não há ressentimento, apenas muito amor, e uma paz que os anjos invejariam.

O ancião João, mensageiro dos mensageiros, não teme estar sozinho numa ilha deserta. Ele sabe que seu senhor Jesus Cristo, mora em seu coração. Que fantástica a criatividade de Deus, que quando soube que estaríamos longe de casa por um tempo, decidiu que o Céu se mudaria para o nosso coração para que não nos sentíssemos sozinhos.

E aqui está João, com o Espírito de Deus vivendo em seu coração, ou seja, com o Céu vivendo pertinho dele.

Mas João nem sempre foi o discípulos do amor.

Era um jovem intenso e idealista quando o mestre da Galiléia o chamou. Seu rosto ainda não tinha barba, mas ele tinha uma missão. E João amou como ele sabia amar: com garra, com força, com um espírito guerreiro que não se amedronta em face das dificuldades;

João era jovem. João era guerreiro. João tinha a intensidade do fogo dentro de sua alma.

Quando João viu seu mestre ser recharçado por toda uma cidade, sugeriu que mandasse fogo do Céu para consumí-los. João tinha um senso de justiça muito claro.

A mãe de João solicitou uma audiência com o Mestre e pediu um lugar de destaque para seu filho. Era nítido o sentido da oportunidade.

Jesus batizou a João e seu irmão de “filhos do trovão.” Era nítido o sentido de tempo, João era rápido, intenso, inteligente e profundamente ético.

Qualquer caça-talentos veria a João com o potencial necessário para ser um grande líder, para criar um império, para começar uma obra do zero.

Mas com Jesus, as coisas são diferentes. Com Jesus, antes de compartilhar a mensagem devemos ser transformados por essa mensagem. E a mensagem se fez carne e habitou entre nós, e nós a vimos…

O ímpeto de João parece ofuscado durante os acontecimentos do Getsêmani e na cruz. João está em silêncio, não se faz notar. João não pede que o fogo do Céu consuma os soldados romanos, sua voz não soa como a assustadora intensidade de um trovão. Sua mãe não solicita um lugar privilegiado entre a multidão que segue a Jesus com as costas em carne viva e carregando a cruz de madeira maciça.

João permanece em silêncio. Sua intensidade tinha dado lugar a sua fidelidade. Seu ímpeto tinha dado lugar a discrição. Sua paixão tinha dado lugar ao amor incondicional.

E quando ninguém mais estava aos pés do mestre que sangrava na cruz, João estava ali, quieto, em silêncio, olhando para os olhos do seu mestre e Jesus lhe diz, em apenas um suspiro: “Filho, aqui está a tua mãe…”

Jesus, o belíssimo Jesus da cruz, o Jesus que não permitiu que a dor da tortura romana o transformasse em um ser egoísta, pensa na sua mãe já velhinha. Uma mulher viúva, sem seu filho homem, não passava de uma mendiga…

E Jesus olha para ela e sabe que seus discípulos estão envergonhados e distantes e escondidos. Mas João, o filho do trovão, permanece, fiel aos pés da cruz, e Jesus, o verbo encarnado, lhe suplica que cuide de Maria, que ele o substitua em seus deveres de filho.

João permaneceu quando todos se foram.

A mensagem encarnada, Jesus, havia transformado ao impetuoso, justiceiro e destemido João.

João havia aprendido a permanecer.
Permanecer aos pés da mensagem encarnada.

Esse é o guerreiro que Deus busca, o líder que assume as grandes empresas, o homem de confiança a quem Deus encarrega o cuidado de sua família.

Guardar silêncio. Permanecer. Ser fiel. Ouvir. Obedecer.

João ainda não sabia, mas desafios maiores viriam. Sobre seus solitários ombros densansaria a redação do mais importante livro para a resolução da batalha entre o bem e o mal.

O Apocalipse, o livro de significados que nunca se esgotam.

E quando o ancião João fechou seus olhos na solitária ilha de Patmos, olhando para esse mar infinito que havia levado tudo o que ele amava, escutou a voz de seu mestre, o mestre da Galiléia que chegou com sua doçura para cuidar do velho e cansado João, da mesma maneira com que João cuidara de Maria.

João o guerreiro, descansava debaixo do olhar atento do carpinteiro da Galiléia.

João deixou de ser o filho do trovão para ser o discípulo do amor. Mas existe uma coisa curiosa, seu ministério, suas palavras, a mensagem do Apocalipse, ainda hoje tem a força, a rapidez, a intensidade de um trovão. Chegam a vida de milhões de pessoas e como uma espada de dois gumes cortam, ferem e convidam para a guerra espiritual.

Não, João nunca desejou de ser um guerreiro intenso. E hoje tenho certeza, de que Deus o susteve em seus braços quando seus olhos se fecharam para sempre nesta distante e solitária ilha.

Deus honra aos guerreiros cansados. Sua sepultura está guardada por anjos poderosos.

Não há vitória possível, não há guerra que possa ser ganha sem que antes a mensagem transforme ao mensageiro.

Com reverência olho para o apóstolo João e sei que existe esperança para mim. Que Deus cobrirá minhas costas nesta guerra desigual e que os anjos guardarão meu sepulcro se esta batalha levar minha vida antes do tempo.

Escolho entregar minha intensidade, minha justiça própria, meu ímpeto idealista. Escolho permanecer em silêncio aos pés dessa cruz com gosto de sangue e lágrimas.

Permaneço perto do mestre. Guardo silêncio. E desejo que a mensagem feita em carne transforme minha alma e me prepare para a batalha.


Fonte: Código.Aberto

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